As milenares sociedades que sobreviveram às mudanças do tempo têm como marca principal o respeito aos seus idosos. As demais, que se deixaram influenciar pela fatuidade do modernismo no convívio humano, pagaram com a decadência o culto à eterna juventude. E as que sobrevivem desrespeitando a memória da cultura guardada nos cérebros longevos caminham para a extinção, não sem antes pagar pelo pecado de maltratar seus idosos. Os exemplos dados pelas civilizações orientais, notadamente a chinesa e a japonesa, são parâmetros clássicos da valorização do conhecimento incutido nas mentes envelhecidas. Até mesmo no primitivismo cultural dos nossos silvícolas há lugar de destaque para o conselho de anciões, a quem se recorre sempre que questionamentos de resolução intrincada surgem no seio da tribo.
Mas isto é assunto complicado para a sociologia aplicada pelo Banco do Brasil no trato dos seus valores do passado. A mecânica materialista que visa o lucro financeiro desconhece pessoas como patrimônio cultural recorrente e baseia na máquina robótica a estrutura fundamental como bem maior a seu serviço.
Desconhecendo ou fazendo-se de desentendido, o Banco do Brasil esforçou-se para alienar do seu acervo a mais perfeita ferramenta plantada no universo pela mão Divina: o ser humano. E no rumo traçado pelas cabeças coroadas politicamente tratou de dotar seu quadro de pessoal de pessoas oportunamente desinformadas, onde se postam a serviço da cibernética para cumprir ordens e repassá-las estaticamente, sem precisar fazer uso da massa pensante para não cair na tentação de inovar, ou mesmo de reconhecer valores nos seus iguais.
O trabalho da inteira eternidade executado por Deus foi, assim, jogado para escanteio pelo Banco do Brasil num átimo de poucas décadas. Tanto é que hoje, depois de extirpar do seu contingente humano os mais valorizados funcionários – tanto pela exigente seleção intelectual por que passaram quanto pela capacidade adquirida na complexidade dos trabalhos desenvolvidos para agigantar o patrão – estes, para ele, remanescem como uma horda amorfa descaracterizada e desvalorizada como coisa inservível e imprestável, inconveniente até.
Tudo porque assim serve ao Banco do Brasil de hoje. A ele não interessa o passado, pois o que conta é o presente alavancando o futuro – a qualquer custo. O que importa mesmo é o preço que possa estipular aos produtos para vender na acirrada disputa que trava deslealmente com a concorrência financeira, que não dispõe das contas do Governo nos seus cofres, nem da fábrica de lucros chamada PREVI onde possa sacar do dinheiro pertencente aos velhos inservíveis.
Atualmente o aposentado do Banco do Brasil é coisa indesejável para transitar em suas dependências e cuidou-se para mantê-lo afastado desse ambiente, talvez para não contaminar os ativos com sua cultura inútil à Casa. O atendimento é feito através de máquinas operadas por outras, mesmo com aparência humana, onde a impessoalidade é um imperativo no trato e os normativos disciplinadores de direitos são particularíssimos, somente se encaixando na categoria de clientes problemáticos em que estamos inseridos. Isto porque as necessidades dos aposentados e pensionistas oriundos do seu seio não são vistas como iguais às dos demais clientes – todos lucrativos por excelência – em contrapartida ao que trazem ao Banco esses parasitas das contas bancárias, pois parece que para o Banco nosso dinheiro é diferente, como se os proventos fossem extraídos dos cofres da Casa fraudulentamente, quando nem lá têm origem.
Presentemente nos deparamos com inusitada situação discriminatória no trato dado ao pessoal da ativa em confronto aos inativos – aposentados e pensionistas. O Banco do Brasil, reconhecendo o alto grau de endividamento desses correntistas tratou de criar linha de crédito específica para lidar com a questão, disponibilizando o programa de reescalonamento de dívidas. Porém, com dois pesos e duas medidas. Embora ambas as contas correntes sejam supridas obrigatoriamente pela FOPAG, imprimindo risco zero aos empréstimos concedidos, os inativos foram excluídos do processo de reescalonamento na plenitude, lhes sendo destinado tratamento desigual. Também, falar nisto nas agências é tabu chegando a ser uma temeridade cuidar do pleito. E quem o faz está sob o risco de ser escorraçado da dependência como se fora um cão danado.
Agora pasmem!
Tudo isto ocorre no momento em que o Banco do Brasil tem como presidente, seu gestor maior, o “colega” Aldemir Bendine, um funcionário de carreira que se ufana em pertencer aos seus quadros desde tenra idade, onde ingressou como menor estagiário efetivado em concurso e chegando ao posto de hoje por puro merecimento. Imaginem se o “Dida”, como gosta de ser chamado, não fosse um dos “nossos”! Até parece que a carreira trilhada por ele foi diferente da nossa, efetivamente funcionários do Banco do Brasil de outrora.
Que Deus proteja nossa velhice.
Marcos Cordeiro de Andrade – Curitiba (PR) – 31 de janeiro de 2012.