sexta-feira, 7 de dezembro de 2012

O queijo do reino


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Marcos Cordeiro de Andrade

Caros Colegas,

Nas festas de fim de ano da minha infância não faltava o tradicional queijo do reino. Embora amargando a pobreza de filhos de assalariados em tempos de pós-segunda guerra, meus irmãos e nossos primos sempre estiveram próximos em todas as horas. Num Natal que hoje recordo, morávamos na Rua Cruz Cordeiro em singelas casas que se defrontavam numa larga rua de barro. Tão pequenas que não havia camas, pois o luxo para o pernoite eram redes, com gamelas de madeira embaixo para atender aos mijões. Ao todo onze crianças. Seis do meu lado e cinco do lado de lá. Éramos primos carnais, pois gerados da união de dois casais de irmãos trocados, nascidos em Itabaiana, na Paraíba. Dona Olívia e seu Bastos eram os meus pais. Dona Guiomar e seu Oscar, os meus tios.

O meu pai era balconista de casa de tecidos, os Armazéns do Norte, onde trabalhou por vinte e quatro anos para criar os seis filhos. Ganhava tão pouco que a cada gravidez da minha mãe éramos forçados à mudança para casa de aluguel mais barato, e mais longe. Por isso, quando nasceu o caçula já estávamos duas cidades além da Capital. E para frequentar a escola pública amucegávamos carroças a guisa de condução.

O meu tio, da casa em frente, irmão da minha mãe, era cobrador de bondes, funcionário público de baixa categoria, portanto. Também pouco aquinhoado em questão de salário.

Todo mês de dezembro esquecíamos a ausência de dinheiro e curtíamos nossas festas de Natal e Ano Novo. Recebidas as “natalinas”, nossos pais iam às compras. Com retalhos dos tabuleiros promocionais, minha mãe varava noites para costurar nossas roupas novas, sempre iguais: calças curtas de brim e camisas de algodão, sem bolsos, para os “homens”. E vestidinhos de chita para as damas, que eram cinco – duas do meu lado e três do outro lado da rua. As idades, em escadinha, iam dos quatro aos onze ou doze anos.

Os sapatos, também de tabuleiros, eram de solado de pneu para os marmanjos e sandálias anabelas para elas. Como eu e o irmão do meio calçávamos o mesmo número, diziam, por vezes ganhávamos apenas um par de sapatos para os dois - e eram reservados para ir à escola. Sempre que os nossos horários coincidiam lançávamos mão de um engenhoso artifício: amarrávamos uma tira de pano no dedão e o empapávamos de mercurocromo para justificar o pé descalço, com o machucado aparente.

Não havia troca de presentes. Porque presentes não havia. Mas tínhamos nossa Ceia de Natal e a Ceia de Ano Novo, depois da missa do Galo. A comida era especial, como pedia a tradição e o bolso permitia. Mingau de mandioca, tapioca com coco e bolo pé de moleque, mungunzá e duas ou três gasosas quentes para dividir com todos, pois vinho e gelo eram luxos que não conhecíamos.

Para dar o ar solene aos “banquetes”, meu pai e o meu tio compravam um queijo do reino de parceria. E o dividiam em quatro partes para ser degustado nas duas ceias. E as mães, a minha e a dos primos, mostravam o que tinham aprendido na criação de filhos com pouco ou quase nenhum dinheiro. Fatias finíssimas do raro queijo eram distribuídas como hóstias dadas na missa. Aquilo para nós era verdadeiramente o corpo de Cristo representando nossa fartura.

E éramos felizes em nossa pobreza. Tanto é que naquele convívio aprendemos a nos amar e amar ao próximo pela vida afora. E hoje, quando não mais existem pais e tios, e os poucos irmãos estão dispersos, nos surpreendemos como Deus foi generoso ao nos dar tanta fartura de amor e bondade em nossa infância.

De lamentar apenas que já não preciso comprar o queijo do reino em parceria. Também, para que se minha família se resume a três pessoas? Pai, mãe e filho, mas ungidos pela fé Divina que nos une mais e mais a cada Natal e Ano Novo que festejamos.

Feliz Natal a todos.

Marcos Cordeiro de Andrade – Curitiba (PR), 07 de dezembro de 2012.

24 comentários:

Anônimo disse...

Prezado Marcos,
Feliz natal, paz e saúde para toda sua família. Obrigado por compartilhar história tão sublime. Que Deus te abençoe, sempre!

Anônimo disse...

Obrigado, Marcos.
Sua história de Natal, por pungente, é a de milhões de brasileiros que aprendemos, desde cedo, lições de fraternidade e fé. Que seu "queijo do reino" seja repartido, em espírito, com quantos ainda comungam os ideais de Justiça e paz social.
Felizes festas; bom Ano Novo.

Amilton/ Marlene Miguez
Lagoa Santa-MG

Anônimo disse...

Meu prezado Marcos Cordeiro,

Recentemente a pREVI DIVULGOU O BALANÇO ATÉ O MÊS DE OUTUBRO/12. COMO NÃO POSSUIMOS CONHECIMENTO ANALISÁ-LO, GOSTARIA DE QUE ALGUM ASSOCIADO, QUE CONHECEESSE BEM DE CONTABILIDADE, FIZESSE UMA ANÁLISE DO QUE FOI DIVULGADO E NOS DESSE UMA POSIÇÃO A RESPEITO. SE A PREVI VEM MELHORANDO SUA PERFORMANCE. SUA PREVISSÃO PARA 2013. SIANTE DA ANÁLISE EFETUADO COMO FICA A SITUAÇÃO DO BET. HÁ POSSIBILIDADE DE SUA INCIORPORAÇÃO, PARA COMPENSAÇÃO EM FUTUROS SUPERAVIT.

OBRIGADO E FICO NA EXPECTATIVA DE QUE ALGUM COLEGA MAIS ENTENDIDO NO ASSUNTO POSSA TRAZER UMA BOA NOVA SOBRE ESTE BALANCETE.

ALVES4701900

Anônimo disse...

pREZADO mARCOS,

sEXTA-FEIRA, A previ DIVULGOU EM SEU SITE QUE ESTARÁ PROMOVENDO ALTERAÇÃO DO previ, referente ao inciso VI, artigo 2.

Gostaria de que nos desse uma balinha sobre a referida alteração. Se a mesma não visa prejudicar os aposentados/pensionistas, como tem sido ultimante.
Confio na sua palavra.

um abraçõ.

alves4701900

Anônimo disse...

Amigo Marcos
Gloriosa e profícua existência. Minha infância já não foi tão difícil como a sua, apesar de que meu pai haja falecido quando eu ainda tinha cinco anos de idade. Deixou minha mãe com farto seguro de vida, com uma boa residência e um quintal que nos proporcionava abundantes frutas e divertimento. Além disso, meu irmão mais velho e minha irmã logo estavam trabalhando, aquele no Banco do Brasil, onde ingressou através de concurso público feito em Belém do Pará, e esta tornando-se professora e secretária do Ginásio Parnaibano. Isso na cidade de Parnaíba no Piauí, na época em que essa cidade era um polo de comércio INTERNACIONAL no norte do Brasil. Parnaíba naquelas primeiras décadas do século passado era uma das poucas cidades do Brasil, onde o Banco do Brasil fazia negócios de câmbio. Minha mãe foi mulher forte, com excepcional instrução para a época e extraordinária educadora dos filhos. Todos ingressamos no Banco do Brasil e atingimos o posto de CHEFE DE SEÇÃO, o máximo da carreira em nossa época.
Edgardo Amorim Rego

Anônimo disse...

Gosto muito de sua história de vida, e principalmente de como a explana.
Creio que uma pessoa assim, tem um coração nobre.
Embora todos sejamos imperfeitos, não há como negar que o senhor humano tem muitas qualidades; entre elas a capacidade de amar.
O difícil nesta vida é ser amado.
Tens demonstrado amor pela sua família, pela sua causa (a defende com unhas e dentes) e pela nossa associação (AAPPREVI).
Não desanime e continue a nos agraciar com seus textos verídicos ou até mesmo alguns fictícios; é um presente para os bons leitores.
Amo muito tudo isso.

Ps:Não gosto dos revides, acho que mancha o seu lindo blog.
Sou leitora assídua, acompanhei todos os momentos.
Abraços á família.

Marcos Cordeiro de Andrade disse...

Marcos.

Obrigado, pela separata do seu Queijo do Reino. Para muitos, pode parecer pura poesia. Para outros, uma elaborada ficção. Para mim, menino paraibano, nascido no Sertão, em Bonito de Santa Fé, depois Pombal, até os 9 anos, e João Pessoa, até ingressar no BB, tudo que Você alinhou, em seu belo escrito, é de um realismo fantástico, atiçando a saudade do tempo em que “eu era feliz e sabia”... Tudo que Você conseguiu arrancar da memória e “materializou no queijo”, eu, do meu modo, conheci e vivi. Permita-me assinar embaixo. Cordialmente, Aristophanes.

Anônimo disse...

Já pensaram,caros colegas, um café da tarde e ao redor da mesa estivessem pessoas como Marcos e Edgardo, nos brindando com suas histórias de vida? Nos transmitindo como está sendo "queijo do reino",lições que no dia a dia de nossas vidas esquecemos e às vezes só pensamos em problemas e amarguras;mas que a vida tem belas fases as quais devemos cultivar?
Antes que me enrole todo no entusiasmo em me expressar, desejo a todos os colegas e a v. Marcos e familia um feliz Natal e um 2013 com mais bonança.

Anônimo disse...

Colegas,

Sou Gaúcho e tenho grande admiração por vocês, irmãos inteligentes e puros, do Norte/Nordeste, deste meu querido Brasil.
Abraços e Feliz Natal a todos.

Anônimo disse...

Marcos,
Meu avô foi o diretor da escola normal da Paraíba. Minha avó dona Elia foi uma grande doceira em JoãoPessoa. Cada vez que voce fala eu revejo os meus que já se foram e morro de saudades. Viemos todos, todos para o Rio e aqui nos diluímos. Mas nunca vamos esquever aqueles que se foram e nos legaram todos os nossos principios.
Eu desejo a voce e sua familia, de tres, um grande natal. E um ano novo maravilhoso.
Vamos em frente, que temos ainda muitas batalhas a serem travadas.
A Aaapprevi vão vai perder os seus principios, por que assim decidimos nós, os seus participantes e por iso temos que continuar, ìntegros, a tentar resolver os nossos problemas.
Fico feliz ao saber que os planos de nos dissolver em outras associações não vingaram.
E triste de ver que pessoas que sempre estavam aqui agora se bandeiam para os lados dos que queriam desfigurar a Aapprevi.
Em frente, guerreiro!
Nós vamos chegar lá.

Rosa Calixto

Anônimo disse...

Boa noite, querido Marcos! Eu te amo e Jesus também. Quando você colocar aquelas lindas bolas de Natal na pagina do blog, eu entro de novo. Beijos no coração de todos.

Marcos Cordeiro de Andrade disse...

Caros amigos,

lamento informar o falecimento de ANTONIETA M. DE FREITAS, mãe da nossa guerreira Daisy Saccomandi, ocorrido ontem.

O velório ocorrerá hoje a partir das 10 hs e a cerimônia será 16 hs no CEMITÉRIO DA VILA ALPINA, onde o corpo será cremado.
À Daisy, os nossos sinceros cumprimentos de profundos pesar e que Deus dê conforto ao seu coração.

Cleide

Anônimo disse...

Marcos, muuuuito obrigado pelo Queijo do Reino, me fez lembrar tambem da minha infancia pobre e feliz e sentir saudades dos que ja se foram e que um dia com certeza os encontarei.
Desejo a voce e sua familia de tres(como disse o colega) e a familia AAPPREVI, um Natal de muita PAZ, muita LUZ e que em 2013 possamos estar UNIDOS para continuar nossa batalha por nossos DIREITOS.
Obrigado a todos os blogueiros anonimos ou nao.
Duda

Lena disse...

Marcos querido, desejo para você e família quê todos os seus Natais sejam abençoados. Nós da Previ, esperamos que 2013 ás promessas de campanha sejam cumpridas e que sejamos também, MAIS respeitados. Afinal de contas, a PREVI é nossa (eu quero acreditar).

Aos colegas do blog, UM FELIZ NATAL!!

Anônimo disse...

Ficou tudo tão claro agora.
Havia um movimento para entregar a Aapprevi a um líder que não quer se mostrar muito, mas que convocou a todos para uma grandiosa tomada de poder continental.
Ele continua pontuando no outro blog. Mas nunca se mostra muito. Ele não quer nada querendo tudo.
E queria um aorganização já organizada.
Parabens por defendê-la Marcos.
E que a caravana passe.
Os nossos cães ladraram.

Feliz natal e vamos em frente

Duarte-Niterói.

PS. O bobo pensa que o blog é dele. Já descobrimos que não.

Julita disse...

Daisy, meus sinceros sentimentos!!!
Que Deus a conforte pela perda da sua mãezinha!!!
Um grande abraço!!!

Anônimo disse...

Banco do Brasil arrecadava 'pedágio' para o PT, afirma Marcos Valério

Anônimo disse...

É esta infancia, pobre mas honrada que forja as melhores figuras. Quando não é honrada, é pobre por desgraça e não por categoria social, temos o que temos aí no governo. Um hoem pobre que se transforma num milionário e é reverenciado pelos que ainda continuam pobres. O que querem? Ser milionários como ele? Comece matando o seu Celso Daniel de estimação meu caro. Sem isso não dá nem pro começoa.
Parabens marcos e continue levando a Aapprevi neste rumo íntegro sem se vender.
Escapamos por pouco.
Os quatro mil não votaram em uníssono. O sei silencio falou por eles. Querem a aapprevi como foi criada. Para defender os aposentados e pensionistas.
O resto é besteira. Delírios de regioes muito próximas ao planalto central.
Sempre ele.

Feliz natal a todos os aapprevianos!
Allan

Anônimo disse...

Caro Marcos,

Com mérito e competência o nobre colega conseguiu se reeleger presidente de nossa
AAPPREVI. Quero, portanto, parabeniza-lo por mais essa vitória e, neste mesmo espaço,
expressar meus mais sinceros desejos de um Feliz Natal e Próspero Ano Novo a você e distinta família.


José ADMIR de Paula
Paracur - Ce

Marcos Cordeiro de Andrade disse...

Prezado Marcos,



Em primeiro lugar devemos aqui lamentar o ocorrido com o colega Francivaldo Soares da Silva, de apenas 21 anos. Eu fico muito emocionado e triste quando leio uma notícia que trata de um assunto que nos deixa preocupado, inclusive com o futuro. O aumento dos casos da espécie é assustador. Na minha opinião isso é um golpe que abala o funcionalismo do BB. À família de Francivaldo eu quero prestar a maior solidariedade, num momento como esse. Me coloquei em seu lugar, quando nos idos de 1962, sempre em companhia de um colega, fazia o percurso entre Barra Mansa e Volta Redonda, um percurso pequeno, porém perigoso, levando 2, 3 malas de dinheiro do Banco, com um revólver 38 do Banco na cintura e uma caixa de balas no bolso do paletó. Aos parentes do Francivaldo externo, neste momento, o meu mais sincero pesar lamentando muito o ocorrido. A ele e a todos os colegas que foram vítimas devemos prestar nossas homenagens. Fazer nossa oração pedindo proteção para todos. O que mais me comove é que eu nunca vi uma associação homenagear aqueles que se foram defendendo o Banco do Brasil. Devemos nos orgulhar muito desses homens e mulheres que tombaram, ás vezes junto com suas famílias ou na presença de suas famílias. Talvez a nossa AAPPREVI o faça. Não me pergunte como, talvez uma homenagem à família. Talvez ciar uma data, sem pensar em feriado, pois desses estamos saturados. Todas as associações, numa determinada hora, de um determinado dia, elevariam seu pensamento e homenageariam os colegas assassinados no cumprimento do dever. Temos a obrigação de nos lembrar desses companheiros e companheiras que tombaram e infelizmente vão tombar no cumprimento do dever.

Vejo sempre pessoas recebendo medalhas, honrarias, etc.

Será que estou sendo pequeno esquecendo os companheiros bancários dos outros bancos. Talvez fosse essa missão dos Sindicatos, Federações e Confederações? Sinceramente não sei. Quando comecei a escrever essas linhas veio à minha mente as palavras do técnico da seleção brasileira de futebol sobre os funcionários do Banco do Brasil. Se você achar melhor poder-se-ia mandar cópia da matéria da ANABB ao referido técnico, em correspondência aos cuidados da CBF. Eu sei que ele se desculpou perante os dirigentes do Banco. Mas o estrago foi grande na parte principal de um ser humano.

À sua apreciação.

Hugo Tavares de Carvalho - 4.289.800-5

Aposentado 73 anos.

Marcos Cordeiro de Andrade disse...

Prezado Hugo,

Assim como você, também desempenhei esse trabalho na mesma época. Eram "Viagens de Numerário" e, no meu caso,o trajeto tinha como centro Itabaiana-PB. O risco era grande. E a segurança nenhuma, pois não existiam carros fortes e nós cumpríamos o papel em Jeep ou, quando melhor servidos, de Rural.
Vamos abraçar sua ideia e tentar sensibilizar o Banco e Entidades associativas a prestar justas homenagens aos outros colegas que tiveram menor sorte do que nós, que hoje temos histórias para contar dos "bons tempos" do nosso querido BB.

Que Deus dê conforto à família do Francivaldo, e toque os corações dos dirigentes do Banco para que não a deixem ao desamparo.

Anônimo disse...

ÀS PENSIONISTAS DOS FALECIDOS PRÉ-67:

Vejam a decisão do TST, de 07/12/2012, publicada no Acordão do Processo 0000780-57.2010.5.09.0019. Animem-se.
A AAPPREVI está patrocinando igual Ação para suas Associadas.
Informem-se.
FELIZ NATAL!

Julita disse...

Colega anõnimo, eu já entrei com essa ação juntamente com outras pensionistas e estamos ganhando!
Vamos pensionistas, esse direito é nosso!
Obrigada, AAPREVI por nos ajudar!!!!

Anônimo disse...

Marcos, parabéns pela sua história de vida que foi assaz comovente e farta de amor cristão. Confesso que deixei-me transportar lá pelos idos dos anos 50 na região de Sorocaba onde com 9 irmãos passávamos dificuldades para se manter mas sobejava amor, compreensão e união por parte de meus pais em nossa formação. FELIZ NATAL a você,Marcos e a todos da AAPREVI com a bênção de nosso Criador!
João Batista - Piracicaba