Marcos Cordeiro de
Andrade
Caros Colegas,
Todo indivíduo, ao se filiar a uma
associação de classe, imprime ao ato a delegação de uma procuração
representativa para defesa dos seus interesses, até o limite daquilo que faria
pessoalmente se instado fosse. E a Entidade escolhida assume o compromisso de
prestar os serviços delineados no seu Estatuto, sem expor o filiado aos riscos
de danos físicos, financeiros ou morais. Afinal, ela é paga para dar
tranquilidade ao seu representado agindo como se ele fora, até o limite da
capacidade investida.
Nesse entendimento, o sócio assumido
espera que sua associação arque com o ônus de qualquer empreitada que se digne
desempenhar em seu nome, em contrapartida à mensalidade que lhe cobra. Seja na
propositura de ações judiciais, sejam nos atos públicos programados por ela a
responsabilidade recai sobre o representante autorizado.
No nosso caso, em que somos uma Associação
de aposentados e pensionistas formada eminentemente por idosos, com raríssimas
exceções, é temerário expor o corpo social aos perigos de manifestações de rua
desnecessariamente, notadamente agora, em que existe uma horda de vândalos
reconhecida oficialmente como destinados à perturbação da ordem, com infiltrações
em todas as manifestações públicas onde se busque reparação de direitos
maculados envolvendo órgãos ligados à administração pública, mesmo
indiretamente, em que se vale de métodos de ação classificados como de baderna
explicitamente violenta.
Portanto, não se pode comparar
uma reivindicação pública representada por idosos com outras envolvendo
estudantes, trabalhadores civis e corporações sindicais – todos fisicamente
capazes de fugir em desabalada carreira se deparados com repressão policial à
base de bordoadas com cassetetes, gás de pimenta e bombas de gás para fazer
frente aos “infiltrados” – tudo aliado ao confronto com os profissionais da
baderna hodierna, os tristemente famosos “Black blocs” voltados para o oposto
da sensatez, ávidos por oportunidades de exposição na mídia na base do quanto
pior melhor.
Pediatras e Geriatras,
especialistas que cuidam dos dois extremos da vida, desaconselham a
participação de crianças e idosos em eventos reivindicatórios de vulto, pelos
riscos envolvidos. Obviamente esses dois segmentos da sociedade necessitam de
movimentação física, mas com responsabilidade e segurança pela fragilidade do
seu arcabouço corpóreo. Os primeiros, com assistência de responsáveis sempre
presentes em suas vidas, ainda têm quem supostamente os protejam. Enquanto que os idosos nem sempre contam com
acompanhantes. Daí não se dever envolvê-los irresponsavelmente em manifestações
de rua sem o cuidado da proteção plena.
Por tudo isto, incentivar uma
manifestação pública envolvendo a terceira idade é desaconselhável em qualquer
circunstância, notadamente agora quando essa movimentação é direcionada precisamente
à participação dos aposentados e pensionistas dependentes da PREVI espalhados
por todo o país – grupo composto quase exclusivamente de pessoas acima de 60
anos. Vale lembrar que a experiência já foi tentada e apenas uns poucos convocados
se aventuraram à façanha. Sem descuidar do fato de que, justamente em respeito
à sua fragilidade física, aqueles que se dispuseram ao intento foram convidados
pelo órgão que criticavam a adentrar seus protegidos domínios - onde houve
acolhida urbana e cortês para recepção das reivindicações.
Neste momento, em que se propõe
evento semelhante na porta da PREVI, dever-se-ia tomar como exemplo a experiência
anterior para adoção de posicionamento condizente com o que almejamos.
Sabedores de que a PREVI estará acessível a nos receber, como historicamente
reconhecido, por que então não irmos diretamente a ela pedir o que queremos?
Por que não nomearmos lideranças escolhidas criteriosamente para sentar à mesa
da Direção do Fundo (que tem por finalidade proteger nossa velhice), e colocar
em pratos limpos as dúvidas e reclamações existentes? Por que não pedirmos às
nossas Associações que nos representem em uma reunião previamente agendada, com
garantias de que serão recebidas e ouvidas? Afinal, não é isso que delas
esperamos? Não é para nos representar e defender que lhes pagamos mensalidades?
Devemos sim, levar à PREVI
postulações sabidamente pertinentes envolvendo reclamações e descontentamentos.
Mas isto terá que ser feito de modo direto e seguro. Sem ameaças e subterfúgios
como devem agir pessoas civilizadas. Já não estamos mais na idade do salve-se
como puder. Temos amor à vida, mas salvar a pele em momentos de crise também significa
agir com cautela sem exposição a riscos físicos desnecessários.
Morei no Rio de Janeiro durante
32 anos e conheço bem a mecânica das manifestações de rua no centro da capital.
Por conta disso, entendo que somente um desavisado ou um jovem inconsequente,
mesmo bem intencionado, poderia propor a exposição de idosos em movimentos
reivindicatórios sujeitos aos riscos inerentes, em quaisquer oportunidades.
Para a aglomeração que estão a
incentivar há necessidade de cuidados precedentes a se tomar. Por exemplo,
nomear prioridades, como:
- Quem bancará
as despesas individuais com locomoção, alimentação e hospedagem;
- Quem se
encarregará da logística da empreitada;
- Quem
garantirá as seguranças individuais;
- Quem
comandará os manifestantes;
- Quem
oficiará as autoridades constituídas pedindo proteção (polícia, bombeiros e de -
saúde);
- Quem pode
garantir o êxito dessa reivindicação aleatória, generalizada e imprecisa, se
encetada nos vagos moldes até agora delineados;
- Como se
proverão as necessidades fisiológicas;
- A quem
responsabilizar por eventual fracasso na empreitada.
Todavia, em que pese a adoção
desses cuidados, não há porque enfrentar tais percalços, pois todos os senões
serão contornados se a promoção excluir a participação presencial maciça dos
idosos como público alvo exigido, de modo a nos contentarmos com o feito operado
por poucas cabeças representativas no envolvimento direto. Estes seriam nomeados
pela totalidade dos que se pretende cooptar, contando com as Associações agindo
em seus nomes. Para tanto, bastaria entregar à FAABB a missão de convocar os
Presidentes das Associações de Aposentados e Pensionistas para uma reunião previamente
agendada a realizar-se DENTRO da PREVI. Isso não demandaria sacrifício de
qualquer ordem para os representados, pois:
1 - Os custos seriam suportados
pelas associações, com o dinheiro das mensalidades dos seus sócios, sem
contestação, uma vez que eles estariam sendo substituídos pelos Presidentes com
os poderes delegados – poupando-os dos riscos da missão.
2 - A Federação usaria da
experiência adquirida nas convocações rotineiras das Associações filiadas;
3 - Ninguém poderia ser acusado
de covardia por não incentivar a manifestação de rua, desde que estivessem
presentes ao evento ora proposto;
4 - A pauta de reivindicações
seria elaborada conjuntamente por lideranças nas Associações que, obviamente,
deveriam ser robustecidas por conhecidas figuras que conhecem os problemas a
serem equacionados e sabem o que reivindicar com propriedade.
Somando-se a isso, os constantes
do rol de eminências seriam convidados a marcar presença na reunião e, pelo que
sei, incluiria os nomes independentes e não polêmicos de Antônio Carvalho, Chirivino,
Cleide Andrade, Daisy Saccomandi, Edgardo Rego, Edison de Bem, Faraco, Giongo,
João Rossi Neto, José Adrião, Luiz Dalton, Medeiros, Milton Bertoco, Nasser,
Pedrito Fábis, Pedro Ferreira, Raposo, Raul Avellar, Ruy Brito, Tollendal, Valentim
e, com perdão dos esquecidos, muitos outros com capacidade à altura. Todos
obviamente assessorados pelos competentes advogados dos quadros das Entidades
representadas.
Todos estes, somados aos cerca de
30 presidentes das Associações, formariam um número facilmente acomodado no
auditório da PREVI, com destinação explícita de debater com a Direção do Fundo
a pauta do encontro previamente apresentada. Resultando em um evento marcado
por comportamento ordeiro e civilizado sem cartazes ofensivos ou jargões
impublicáveis, o que seria difícil conseguir em uma manifestação de rua com
prejuízo para a classe. Para dar transparência ao ato poder-se-ia, ainda,
convidar jornalistas dispostos a empenhar o nome, garantindo resultado
amplamente divulgado na mídia para conhecimento público. As despesas, como dito
acima, seriam suportadas pelas associações, para seus presidentes, e a Federação
ratearia o restante como faz em suas Assembleias, para subvencionar os “experts”
convidados que não dispusessem de meios para cobrir os gastos pessoais
envolvidos.
Depois, o volume dos aposentados
e pensionistas representados seria considerado participativo, mas sem ninguém
sofrer danos físicos, financeiros ou morais. Também afastando a hipótese de
alguém ser tachado de omisso porque, nessa conjuntura, lá se faria presente
indiretamente.
E todos seriam felizes para
sempre.
Atenciosamente,