Marcos Cordeiro de
Andrade
Caros Colegas.
Cada povo tem a Maria Antonieta
que merece. A da França, por conta de arbitrariedades praticadas, foi
guilhotinada há exatos 221 anos (16/10/1793). Lá, em época de vacas magras, a
rainha recomendou equivocadamente aos súditos que comessem brioche para suprir
a falta de pão. Enquanto que aqui um guru da primeira mandatária soprou-lhe aos
ouvidos que mandasse o povo comer ovo, ao lhe ser anunciado haver escassez de
carne no mercado.
Sorte deles que nossas
guilhotinas somente se prestam para cortar papel e outros apetrechos que não
pescoços humanos. Até porque, nestes atribulados dias nem mesmo se as usa para
cortar dedos, o que, aliás, se fazia antes até deliberadamente, e, na ausência
delas, por meio de tornos mecânicos obsoletos sem proteção adequada aos
operários diligentes que com eles lidavam – isso aos que quisessem simular
acidentes para os “incapacitar” para o trabalho – o que raramente ocorria. Hoje
essa prática está manjada e não há recorrência, pois quem assim agia condenava
o povo a sustentá-lo para o resto da vida, deixando-lhe tempo para tramar
absurdos inconfessáveis contra esse mesmo povo.
Mas, voltando à tirada que escapa
à compreensão dos “gourmets” tupiniquins, considera-se que, pela segunda vez na
história uma pessoa anônima se faz famosa por um ato de suprema inteligência
revelado ao mundo, mostrando como lidar com o ovo de maneira diferente. Tanto é
que, presume-se, a cozinha do planalto, reconhecidamente como a que mais sofre
com os efeitos da elevação repentina da inflação, já se desdobra no preparo e
divulgação de cardápios especiais supridores da ausência da carne. Aguarda-se
edição de medida provisória anunciando a boa nova. E originais pratos serão
anunciados como iguarias à disposição do público alvo, depois de devidamente
testados e aprovados pela dona dessa magna cozinha como substitutivos para a carne
sumida. As opções são vastas: Ensopadinho de ovo com chuchu; ovo à
Chateaubriand; ovo a cavalo (ovo sobre ovo); picadinho de ovo; espetinho de
ovo; churrasco de ovo com asa de frango; macarronada ao molho de ovo moído; ovo
assado ao forno; ovo de panela; hambúrguer de ovo; estrogonofe de ovo... E por
ai vai.
Paralelamente, serão adotadas
medidas de proteção às vacas (do campo) para garantir renovação dos rebanhos.
Proibir o uso de sapatos de couro é uma delas, sendo permitido andar de
sandálias até mesmo no Congresso. Outra recomendação visa incentivar o consumo
de margarina, deixando de lado o “outro” produto de nome não recomendável por
lembrar personagem atuante na atual crise. Por outro lado, as galinhas (dos
aviários) estarão protegidas por força tarefa específica para garantir o
suprimento de ovos.
Seguindo a linha de raciocínio
simplista do planalto, fica comprovado ser desnecessário lutar por qualquer
tipo de mudança, posto que, reconhecidamente, estejamos bem servidos pelas cabeças
pensantes que nos regem - ao menos em relação aos cuidados com a alimentação de
povo tratado como de quarto ou quinto mundo. No mais, resta-nos esperar que o
suprassumo da inteligência aboletado no palácio do planalto revele outros “ovos
de Colombo”. Não nos surpreendamos se seguirem a mesma fórmula mágica para
resolver os problemas básicos da Nação. Como, por exemplo, eliminar o déficit da
previdência mandando adicionar o vírus ebola nas vacinas obrigatórias
destinadas aos velhinhos trambiqueiros do País. E se determine que os pais
passem a alfabetizar os filhos em suas casas até o vestibular, transformando escolas
públicas em abrigo de quarentena para aprimorar corruptos (entre uma atuação e
outra), levando o governo a economizar com o não pagamento dos salários de
professores da base escolar – hoje regiamente remunerados à custa do Estado, que
carece de recursos já que o povo paga pouquíssimo em questão de impostos. Neste
particular, comenta-se que o erário está tão pobre que nem mais consegue disponibilizar
recursos aos especialistas de colarinho branco para o roubo sistemático,
prática corriqueira que azeita a máquina da administração pública para deleite
dos eleitores que os mantêm no poder, a despeito da inveja dos que neles não
querem votar e que resmungam à toa.
Entende-se como possível que se
lacrem as rodovias existentes (ou se as bombardeiem para aumentar os buracos
existentes), eliminando o predatório trânsito de veículos. Essa medida resolveria
dois problemas recorrentes. Fincaria o povo nos próprios terreiros gastando ali
o rico dinheirinho, e as “riquezas” do país voltariam a ser transportadas por
caravelas ao longo da costa (inutilizando navios movidos a combustível fóssil)
e em lombo de mulas e burros (de quatro patas) pelo interior afora. Assim se economizaria petróleo no uso interno,
destinando-o à exportação para trazer divisas aos cofres públicos que têm muito
a quem “suprir”. E propiciaria
justificativa à implantação de centenas de superfaturadas refinarias nos mais
recônditos lugares (longe da fiscalização pública), fontes seguras de utilíssimos
propinodutos já testados e aprovados.
Para a área de segurança poderiam
acabar com as polícias (pacificadoras ou não), deixando ao cidadão comum o
feito de encarar os bandidos à tapa, já que suas armas foram confiscadas
deixando a prerrogativa do uso indiscriminado aos indefesos meliantes. Isso redundaria
em economia com a extinção dos altíssimos salários pagos aos nossos defensores
do dia a dia e devolveria os policiais à condição de cidadão comum para
produzir alimentos básicos nos terrenos improdutivos, como parques e jardins e
arenas da copa – porque as áreas cultiváveis do campo já têm como donos os movimentos
próprios custeados pelo Estado. Nesse contexto somente não seriam afetadas as
Forças Armadas, porque ai o buraco é mais embaixo. Vai que não entendessem as
medidas de contenção de despesas em pauta e resolvessem tomar providências em
benefício do povão... Afinal, paciência tem limites.
Já a questão da saúde pública
seria tratada também de modo sui generis. Bastaria um decreto proibindo o povo
de recorrer aos postos de saúde e hospitais públicos, que seriam fechados em
definitivo sem fazer falta já que pouco ou nenhum atendimento prestam mesmo. Em contrapartida, o Governo estimularia a rede
particular a cobrar pelo atendimento ao seu bel prazer, forçando o Zé povinho a
retornar ao tempo das rezas e garrafadas para curar seus males, levando à
falência os fabricantes de produtos de marca deixando à disposição da ralé os
indefectíveis rotulados com a Letra “G”.
Tudo colocado em prática dessa
maneira adviria mais uma vantagem para todos, pois tornaria desnecessário o uso
do voto nesse segundo turno. E o domingo da eleição seria destinado ao lazer
com a família e os amigos. Quem sabe desfrutando de um saboroso churrasco de
ovo à beira da piscina seca? Ninguém seria forçado a buscar mudanças utópicas,
desnecessárias e inconvenientes, já que tudo está uma maravilha. E em time que
tá ganhando não se mexe, não é mesmo?
Portanto, mudar pra quê? Pra quê
mudar se dentro e fora das cadeias temos gente tarimbada, testada e carimbada,
a cuidar dos nossos problemas reais?
Ou seriam fictícios?
Veremos...