sexta-feira, 24 de outubro de 2014

O Nordestino e o Governo



Marcos Cordeiro de Andrade


Nasci no início da segunda Grande Guerra, em 1939, e, ao seu término, já tinha discernimento suficiente para acompanhar seus efeitos sobre minha gente. Vivenciávamos a era Vargas, governo populista que deu início às conquistas trabalhistas no País. Por conta da origem, sei o que é ter passado por adversidades como nordestino numa época de estreitas oportunidades.

Sou natural de João Pessoa, na Paraíba, e desde muito cedo me interesso por tudo que nos diz respeito em sendo a parte sofrida do Brasil. Comecei a trabalhar com carteira assinada aos 13 anos de idade, em 1952, como office-boy no escritório da Mesbla. Antes, a partir dos sete anos, fiz um pouco de tudo que a idade me permitia fazer. De catador de sobras nos quintais, como vidro, ferro e alumínio, até entregador de carvão nas residências, passando por garoto de recados, vendedor de balas no cinema Astória com tabuleiro a tiracolo e “escrevedor de cartas” para analfabetos. E fui sobrevivendo. Depois de servir ao Exército no 15º RI saí da Mesbla com pouco mais de 19 anos, com o pomposo cargo de “correspondente” inscrito na CTPS, mas com salário mínimo, ainda. Foi quando criei asas para me dedicar a emprego mais rendoso e virar rato de biblioteca depois de inscrito em concursos públicos. Tive a sorte em ser aprovado quase que simultaneamente em quatro deles (Correios, Atendente do IAPC, Serventuário da Justiça e Banco do Brasil – este classificado em 9º lugar). Por livre vontade escolhi o BB para fazer carreira, pois via meu futuro estampado no orgulho do meu pai ao ser cumprimentado na rua, onde os amigos lhe diziam pelo sucesso do filho: “está feito na vida”.

No entanto, depois de ingressar no Banco do Brasil foi que conheci a pobreza em toda sua extensão. Servindo no interior e no sertão do Nordeste, a realidade me mostrou que a esperança da bandeja dos jovens era se transferir para o sul maravilha em busca de emprego e melhores dias, pois a indústria da seca não permitia desenvolvimento algum nesse pedaço de Brasil. Ali nem mesmo o passo para o futuro dado por Juscelino foi capaz de mandar alguma sobra, pois os coronéis, os políticos e a gulodice dos eternos beneficiários das verbas emergenciais não permitia visão desanuviada além dos limites vividos. E nada era capaz de extirpar esse cancro maligno chamado ignorância política que se arrastou até o advento da TV, Internet e grande imprensa.

Mas, por conta disso, e por fim, veio a Era Lula com promessa de mudanças profundas privilegiando as regiões mais pobres do País. Promessa feita, promessa cumprida. Todavia, e infelizmente, de um modo desastroso que mais prejudicou do que ajudou ao povo nordestino. Com protecionismo exacerbado a partidária política populista do Governo deu o peixe ao invés de ensinar a pescar. Esse desastre assistencial, com suspeitos nomes de Bolsas, foi o limiar da inconsequência abatida sobre o povo das Regiões pobres do País, que, à falta de oportunidades e ferramentas para amassar seu próprio pão, contentou-se em sobreviver à custa do Estado acumulando migalhas distribuídas mensalmente através dos órgãos assistenciais, com data certa, sem necessidade de se bater cartão ou comprovar capacidade para o trabalho remunerado. Isso foi a pá de cal jogada sobre a sepultura dos insepultos. O que fez com que até mesmo o olhar esperançoso que fitava o sul maravilha se desvanecesse, permitindo a todos se fixar no solo em que nasceram, mas rendendo subserviência ao dinheiro fácil que desacostuma o derramar de suor à custa do trabalho honroso.

Como resultado dessa inconsequência política restou a eternização do espectro do desemprego. Não pela falta deles, cujas ofertas pululam nos comércios, nas fábricas e nos canteiros de obras - na Cidade e no campo, na terra e no mar. Mas que não mais atinge o brio do nordestino que era “antes de tudo um forte”, segundo Euclides da Cunha, e que se tornou um fraco à mercê de esmolas com nomes supimpas de Bolsa Família e seus derivativos de Bolsa Escola, Bolsa Gás, Bolsa Eletricidade e mais isso e mais aquilo. O que no fundo não passa de Bolsa voto – uma espécie de cabresto eleitoreiro como no tempo dos coronéis. Mesmo assim, não é preciso acabar com as Bolsas, mas regulamentá-las com destinação aos efetivamente necessitados, deixando em paz para trabalhar honestamente todo aquele que estiver em condições de produzir riquezas para si, para sua família e para a Nação. Como sempre foi desde saudosos tempos.

Pelo que ocorre, enquanto não se puser um basta nessa política assistencialista desmedida, o nordestino não poderá retornar às verdadeiras origens usando a força da sua capacidade produtiva. Isso como no tempo em que ajudou a criar o Estado do Acre, a desbravar os seringais amazônicos, a construir São Paulo e a se tornar candango para ajudar Juscelino na construção de Brasília.

É lamentável o estado de coisas vigente no País, onde quase a metade da população se vendeu à ganância política com assistencialismo dominador. E, como o Governo atual não dá mostras de ser capaz de dar uma guinada no vetor dos seus planos, mesmo se reeleito, e se não é isso que pretende e parece não ter como tirar o pescoço do mar de lama da corrupção em que se envolveu, está na hora de reconhecer que sua política falhou principalmente em direção ao Nordeste do Brasil e, assim sendo, chegou a hora de passar o bastão a um corredor mais forte e capacitado que se proponha a continuar na corrida de obstáculos em direção à faixa de chegada, onde se lê: REDENÇÃO DE UM POVO PELO VOTO.

Marcos Cordeiro de Andrade – nordestino de nascimento e de coração.

Curitiba (PR), 24 de outubro de 2014. www.previplano1.com.br

Um comentário:

Marcos Cordeiro de Andrade disse...


24/10/2014
Banco ajudou Val Marchiori a conseguir empréstimo.

Folha de S.Paulo

Papéis internos do Banco do Brasil revelam que a instituição primeiro aprovou limite de crédito de R$ 3 milhões para a apresentadora de TV Val Marchiori e depois a instruiu para elaborar uma série de documentos sem os quais ela não teria o financiamento aprovado pelo BNDES.
Como foi revelado na terça (21), Marchiori obteve R$ 2,7 milhões no BB, a partir de uma linha subsidiada pelo BNDES, com juro de 4% ao ano -inferior à inflação.
A empresa usada por Marchiori para obter o crédito, a Torke Empreendimentos, não tinha CNPJ registrado na Receita Federal, demonstrações contábeis válidas nem previsão no contrato social para "aluguel de caminhões", objetivo do financiamento solicitado ao BNDES.
Os documentos provam que a operação não seguiu os caminhos convencionais do BB.
Marchiori é amiga do presidente do BB, Aldemir Bendine, que nega participação na operação.
Resposta
O Banco do Brasil afirmou que a operação contratada pela Torke Empreendimentos "encontra-se em situação de absoluta normalidade, com todos os pagamentos em dia, e nenhuma pendência".
As análises técnicas, diz o BB, foram feitas de modo correto.
O BNDES informou que, sua relação é com o agente financeiro, que é responsável pela análise de risco de crédito.
Procurada por e-mail, Marchiori não respondeu as perguntas a ela encaminhadas.
Fonte: Jornal Agora S. Paulo.