VELHICE AO DESAMPARO
Marcos Cordeiro de Andrade
Curitiba (PR), 12 de dezembro de 2017.
Desde a mais tenra idade, o ser humano aprende a confiar em
quem lhe provê o sustento. Em qualquer sentido que o destino lhe reserve o
aprendizado do conhecimento, isso marca o processo evolutivo da espécie.
Ainda bebês, recém-chegados ao mundo, somos protegidos por
pais amorosos, acalentados e repousados em seus braços para usufruir da concha
protetora que a responsabilidade voluntária herdada da Criação nos oferece. A
partir de então, cumprimos etapas da vida em busca da autossuficiência que não
chega nunca. Mas sempre confiando em que bons propósitos sejam regra entre os
que se propõem a servir de guia nessas jornadas. Na primeira infância, e
depois, na juventude e adolescência, o desprendimento vindo do berço encontra
nos orientadores educacionais elementos propícios ao aprimoramento das
virtudes, recompensando nossa entrega.
Depois, na ponta extrema da idade adulta, fechando o ciclo no
fim da vida, voltamos à estaca zero do processo tornando à dependência do
sustento pelas mãos de necessários protetores. E aí, vulneráveis como os
recém-nascidos, precisamos mais que nunca confiar sem freios e sem opções. Não
sendo assim, o caminho percorrido se perde da finalidade.
Infelizmente, a esta altura pecamos por erro de avaliação.
Nesse estágio do final da existência, em que deveríamos gozar da segurança por
que pagamos a órgãos previdenciários, tardiamente descobrimos que caímos em
mãos erradas. A Previdência Pública, dita oficial, é gerida politicamente em
direção a interesses eleitoreiros. E a Previdência Privada trilha por desvios
inconfessos, acarretando incompatibilidade de propósitos na execução do mandato
que lhe outorgamos, pago em forma de poupança garantidora da última e
irreversível idade. Também ela, a exemplo da Previdência Social do Governo, a
quem igualmente pagamos anos a fio, se mostra incapaz de corresponder à
confiança depositada – e irremediavelmente necessária para prover nossas
necessidades básicas como na fase de recém-nascidos. Essa desconfiança, que
nunca deveria ser mencionada, porquanto improvável, existe a propósito da
gestão temerária em Entidades Previdenciárias. A Pública, é embalada por
interesses políticos dos gestores manipulados por um poder paralelo. À sua
semelhança, a Previdência Privada tem sido entregue a prepostos políticos, nem
sempre bem preparados que dirá bem-intencionados. Há casos em que, por vezes,
são coniventes e beneficiários dos resultados de má condução instalada. Bem
como há os que se aproveitam do cargo usufruindo de aposentadorias dezenas de
vezes maiores que as de desvalidos que “defendem” - e sem ter contribuído para
tal na proporção exigida.
Enfim, entramos na fase derradeira com a mesma carência de
cuidados do primeiro estágio e, igualmente, com total entrega nas mãos de quem
foi designado para cuidar do nosso sustento. No princípio, a ordem natural das
coisas nos destinou cuidadores honestos, despretensiosamente responsáveis sob
orientação Divina. No entanto, hoje, os que pretensamente nos amparam o fazem
como se ao reflexo do espelho. Tudo tem que reverter em benefício deles e dos
seus propósitos e não em função do que nos é devido, lamentavelmente. Agem
impunemente sem medo de castigos. E nem cadeia temem mais, mesmo conhecendo
alguns “parceiros” penando atrás das grades.
Mas há como reverter o sombrio
quadro. A solução é simples, e existe ao alcance dos que regem os destinos da
previdência social no Brasil. Basta tirar esse poder das erradas mãos em que se
encontram e transferir para os gestores certos que o milagre se dará. Então não
se falará mais em inviabilidades, ou em rombos e déficits orçamentários. As
lágrimas hoje vertidas pelo descaso implantado secarão e os sulcos de faces
enrugadas pelo tempo serão aplainados pela força de sorrisos de gratidão. Não
mais haverá desvios de verbas e de condutas. A seriedade será o diapasão a
afinar a orquestra. Por isso, e por caridade, apelo aos poderosos de causa
própria para que entreguem as Previdências para os antigos aposentados e
pensionistas cuidarem com os conhecimentos adquiridos na escola da vida. Eles,
sim, entendem do riscado. Eles venceram todos os obstáculos até essa linha de
chegada e sabem onde o calo aperta no calçado que lhes é dado usar. Impossível
esperar que um jovem carreirista ocupe o lugar de condutor dos destinos de
aposentados se ele jamais foi um deles. Nem será. Porque sua visão enxerga algo
maior na sua ótica tacanha. Coisa mais rentável e menos sacrificante é o que
mira. Mais condizente com o aprendizado adquirido na moderna escola que o
formou, como a ditar que ser aposentado não é futuro para ninguém. O
fundamental, segundo esses princípios, é se voltar para cuidar de encher o
pé-de-meia. Nem que seja à custa dos aposentados que estrebucham sob seus pés.
Em conclusão, sem nenhuma alquimia ilusionista façam o
milagre da transformação. Entreguem a previdência para ser gerida por quem
entende do assunto mais que ninguém. Mais que todos os novatos diplomados
existentes no mercado de trabalho do Brasil. Convoquem para o lugar aposentados
e pensionistas desempregados. Há milhões deles disponíveis. E aptos para gerir
nossos destinos como verdadeiros mestres no ofício. Senão, a perdurar o
presente estado de coisas não teremos futuro condizente. E nenhum outro futuro
também. Enquanto a raposa tomar conta do galinheiro todos estaremos à mercê da
gulodice covardemente desonesta – programada e executada à sombra de
politicagens financeiras.
Marcos Cordeiro de Andrade
78 anos
Aposentado pelo INSS e pela PREVI
78 anos
Aposentado pelo INSS e pela PREVI
6 comentários:
Prezado Sr. Marcos dizer o quê?
Somente que o senhor retratou a mais pura e real verdade! Triste, muito triste! Mas não se amargure desse jeito, por favor!
Atenciosamente,
Eliane Lima
Advogada - Lima & Silva Advogados
Bravo, bravo, bravo, valente lutador colega Marcos Cordeiro de Andrade.
Marcos Gilberto Homem de Mello, 87 anos, igualmente aposentado pelo INSS e PREVI,
Caro Marcos,
Parabéns pelo seu belo texto.
Aproveito para desejar-lhe, a todos os seus distintos familiares, um Feliz Natal
e um Ano Novo com saúde, paz e alegria.
Abraços,
Norton
Caro Marcos, a quem aprendi a admirar a partir de indicação do amigo Ravacci.
Seu texto faz lembrar do Livro de Jó.
Na velhice, Deus "autoriza" o demônio a tirar-lhe tudo o que possuia ...
Mas não blasfemou contra Deus.
Resultado: RECEBEU muito mais do que havia perdido.
A ESPERANÇA é a grande ( uma das: Fé, Esperança e Caridade ) mola que impulsiona as pessoas de fé para a frente ...
Apesar de tudo de ruim que parece nos cercar ...
Vemos os acontecimentos agora como num espelho embaçado ...
Logo veremos a pura verdade.
É o que espero, MUITO.
Grande abraço e não desanime.
Para Deus NADA é impossível.
Rafael
Marcio Izidorio 16 de dezembro de 2017 11:37
Marcos Cordeiro de Andrade, parabéns pela colocação adequada do seu texto. Reflete bem a nossa preocupação com o nosso futuro...!!! Infelizmente essa é a nossa realidade... estamos sendo pastoreados por lobos famintos e inescrupulosos...!!!
Regina Silva 15 de dezembro de 2017 17:42
Parabéns Marco Cordeiro de Andrade, pelo texto muito bem escrito. Você faz uma leitura humanizada das aflições dos aposentados. Você faz considerações, por um ângulo bem diferente do comum. Mas, se me permite, tenho duas críticas: um texto mais conciso será lido por um número maior de pessoas e este deve ser lido por todos! Os que o lerem se beneficiarão de seus pensamentos inspirados! Em segundo lugar, acho que não é pecado ser jovem, assim como não é virtude ter passado dos 60 ou 70 anos de idade. O pecado é a desonestidade! Provam isto, os covardes de cabeças brancas, que estão nos Três Poderes.
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