NATAL em solitário
Marcos Cordeiro de Andrade
Curitiba (PR), 24 de dezembro de 2018.
Neste ano, como se fora opção de velejador, deslizarei nas
águas calmas do Natal na solidão que o tempo me impôs. Sem queixumes, a Noite
me terá sozinho.
É que fui incluído no rol dos solitários por prazo de
validade vencido. Com resignação, farei da constatação o rito de passagem para
o inevitável na permanência da posição sem volta – extraindo da situação motivo
de superação dos sentimentos negativos, ao tentar levar o exemplo a quantos
possam dele se beneficiar.
Bem sei que ninguém deve enaltecer infortúnios. No entanto,
na medida em que eles são partilhados podem servir de alerta para inibir a
repetição, e os efeitos se amenizem. Servem de consolo e de ajuda a um só
tempo, pois, o conformar-se com o que nos é dado ter transforma carências em
plenitude...
Com esse pensamento, preparei meu espírito para experimentar
um Natal desacompanhado. Talvez o mais sozinho que jamais esperasse ter, mesmo
como consequência natural da mecânica que rege nossas vidas.
Com o passar do tempo, a acomodada presença de entes queridos
à volta da mesa do Natal vai se reduzindo, por conta de ausências que se dão
pela vontade Divina. Justificando-se por mortes ou afastamentos em busca de novos
horizontes, o esvaziamento é gradativo e ninguém está livre do processo. Pelo
visto, a cada ano o Natal é menos pródigo em proporcionar o calor humano da
festividade. Sem esquecer que, quanto mais longevo o vivente, mais propenso à
fadiga do costume de partilhar presenças – mormente entre familiares.
Como a ninguém é dado o direito de tolher expectativas, não
se pode amarrar ao cós aqueles para quem o destino tem planos de
distanciamento.
Além do que, quando murcham os ramos vivos da outrora
frondosa árvore genealógica, a poda resultante traz na saudade o peso do viver
sozinho. É quando escasseiam as comemorações em família nas parcas colheitas
das searas malcuidadas. Diminuem os aniversários e acabam os casamentos
impedindo batizados. Consequência das mortes havidas, pode-se culpar, única
estatística a alimentar o gráfico da Vida.
Em que pese tudo isto, neste Natal de solidão não vencida
cumprirei a tradição da Ceia em mesa compartilhada e farta na medida do
possível. Porém, se diferenciando pela escassez de convidados que o tempo não
deixou reunir. Será a Ceia do Eu Sozinho esta que não me permitirá ver ninguém
à volta em qualquer cabeceira que ocupe. Mas, resignado pela sujeição imposta,
dividirei uma hipotética mesa repleta de convivas convocados pela imaginação de
um anfitrião solitário.
Hoje não esperarei pela Missa do Galo para iniciar a ceia do
Natal. Assim, terei tempo de incluir nas orações os nomes dos “presentes” - que
jamais foram tantos.
De modo que também o seu nome, que me lê agora, seja lembrado
juntamente com o de todos os que frequentaram as mesas dos meus Natais
passados. E como a imaginação não respeita limites, ao preencher a relação
deste ano me darei ao luxo de incluir os que sempre quis ter comigo, agora sem
o remorso de roubar sua presença às mesas das suas escolhas. Por isso, sem sair
do lugar que ora me cabe, peço permissão para que os alcance nas suas reais
mesas natalinas. E ali, num abraço fraterno de FELIZ NATAL, pedirei ao
Aniversariante que nos recomende ao Pai para que nos dê PAZ, SAÚDE e
TRANQUILIDADE.
AMÉM!
Marcos Cordeiro de Andrade
11 comentários:
Dilson Paulo Oliveira Péres Grande Abraço colega e amigo, muito bom seu texto nesta data que nos traz muitas lembranças boas e outras nem tanto , Desejo que sua Noite seja de muita paz e oração por todos que te foram caros e Amados. Um Feliz Natal para você em sua solidão. Com carinho de um colega que não o conhece pessoalmente mas o admira por seus princípios e sua sabedoria
Balduino Cézar Rabelo Belas e sábias palavras, colega e amigo Marcos! Soube, com a precisão de Michelangelo, esculpir, na pedra bruta da solidão, a imagem resplandecente da congregação! Tantos serão os seus convivas quantos tiverem a oportunidade e a capacidade de "ler e entender" os seus sentimentos! A sabedoria é uma árvore frondosa, mas apenas alguns conseguem identificá-la e poucos, como você, conseguem colher e saborear seus frutos! Embora não sirva de consolo, muitos, como você, padecem desse mesmo sentimento, mas poucos, como você, conseguem entendê-lo e transformá-lo num momento de inspiração e criatividade! Permita-me, pelo exposto, compartilhar seu belo texto com amigos, especialmente alguns, que se notabilizam por dividir a sua solidão com seus fantasmas! Após a leitura do seu texto todos nos tornamos convivas virtuais da sua ceia e estaremos, todos, abraçando-o em nossos corações! Que Deus o proteja e ilumine!!
Desejo ao colega Marcos Cordeiro um Natal feliz, apesar de aparentemente sozinho.
Deus esta conosco, sempre!
E os seus milhares de amigos também.
Um grande abraço
Marcos,
que palavras encantadoras, que nos faz acreditar em uma Força Divina, criadora de Todas as coisas.
"conformar-se com o que nos é dado ter transforma carências em plenitude..." é, para mim, algo verdadeiramente Sublime.
Obrigado pela linda mensagem.
Fraternal abraço
Luiz Portilho
Saudações cordiais a todos.
UMA GRANDE AMIGA
Caro colega, Marcos Cordeiro, é sensação muito pessoal, mas eu tenho o maior apreço pela "companhia" da solidão, embora, felizmente, viva a ventura da presença dos meus. Parece contrassenso, não? Penso que quanto proveito pode-se tirar dessa "companhia", a solidão. Certamente e sobretudo, sinto, é o melhor momento, para conversar com o Divino. Imagino, na voz de São Francisco de Assis: a "irmã" solidão. Caro colega, na solenidade do Natal do Senhor, hoje, 25, o cântico garante que "jamais irão as trevas vencer o seu clarão." Esse "clarão" refere-se a Jesus Cristo. Eu creio, firmemente, colegas, que Jesus vence, sempre, mesmo que, aparente e momentaneamente, pareça contrariar os nossos projetos. Eu creio assim: AS TREVAS JAMAIS VENCERÃO! Santo Natal do Senhor a todos, grato por tudo e PAZ E BEM!
"A Deus ninguém jamais viu. Mas o Unigênito de Deus(Jesus Cristo) que está na intimidade do Pai, ele no-lo deu a conhecer." Jo 1,18
Antonio Carvalho Carvalho
Marcos
São muitos os motivos que levam milhares e até milhões de pessoas a essas transformações, marcadas por momentos festivos, alguns até por opção.
Nunca estamos sós. Estamos sempre com Deus! Feliz Natal!
Carlos Valentim Filho Valentim
25 de dezembro às 21:17
Parabéns Marcos pelo texto. Gostei. Boas Festas.
Júlio César Pestana Costa
Marcos, amigo cheio de bons sentimentos. É um mestre perfeito. Abcs.
Elisa Maniaudet
O teu texto é emocionante! Saudades do que se viveu, compartilhou com amores de todas as formas nos tornam mais emotivos. Teu texto mostra mais do que uma opção, que estás muito espiritualizado e é isso que importa em um Natal. A certeza de ter a presença Dele! O aniversariante esteve e estará sempre contigo. Abraços!!!
O homem não é uma ilha. Além disso, jamais estará só, pois o pensamento voa, apesar de parecer uma coisa à toa (Caetano disse algo assim). Ademais, aquele que tem fé, não anda só. Portanto,meu amigo Marcos Cordeiro, você passará o Natal e certamente o Ano Novo, em companhia de todos os seus,mesmo que não os veja, e de todos os milhares de pessoas que te conhecem e te valorizam.
Com certeza, da minha companhia, ainda que distante. Um grande abraço e não esmoreça. Precisamos de ti e de tua força em nossa defesa.
SolonelJr
Edison DeBem Silva
Amigo MARCOS. GRANDE ABRAÇO DESTE SEU AMIGO EDINHO. QUE DEUS TE ABENÇOE TE DÊ SAÚDE E PAZ.
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