Oitenta anos
Marcos Cordeiro de
Andrade
Curitiba (PR), 27 de
abril de 2019,
Caros
Colegas.
Muito já se falou sobre viver oitenta anos. E aqui estou eu
para confessar ser mais um a entrar para o time dos octogenários. Já vai longe
o tempo em que esse aniversário era raro acontecer, mas para quem chega tão
longe não deixa de ser uma data surpreendente, como um marco fincado no fim da
estrada da vida. A partir daqui tudo é lucro, em relação a continuar entre os
vivos.
Transitar por essa estrada não requer o cumprimento de metas,
pois uma vez iniciada a jornada ao caminhante só resta se deixar levar
respeitando limites. Lentamente ou apressado, consciente ou empurrado, um dia ele
acorda com uma penca de anos vividos pelas costas exigindo reflexão. E, ao refletir,
lhe é devido se cuidar para não repetir erros conhecidos porque, também aí, não
cabe demarcar etapas futuras. A marcha inexorável do tempo não conhece freios.
Meu propósito tratando desse assunto é tranquilizar os que
ainda não chegaram tão longe. É como se transmitisse uma experiência única que
devesse partilhar pelo ineditismo da ocorrência. Sem pieguice ou ufanismo, existe,
isto sim, a vontade de partilhar um feito histórico mesmo reconhecendo que bom
número de viventes já passou por isso. Porém, é bem maior a fila de espera. E os
que a ocupam vêm com preocupação a aproximação do evento.
Tranquilizem-se, portanto, pois assim como chegou para mim, o
aniversário de 80 anos chegará para quem for escolhido por Deus para ter essa
felicidade. Devagarinho, sorrateiramente, a data quase limite chega marcante. Sem
dor, sem mudanças abruptas, quando menos esperamos estamos lá dentro – no
balaio de velhos com oitenta anos de idade.
Mas, confesso, é um feito de respeito. Sinto-me um
privilegiado. E, na busca pelos motivos de ter chegado tão longe não encontro
marcas que justifiquem o beneplácito. Sempre fui uma pessoa comum, com altos e
baixos entre a bondade por opção e a maldade por omissão. Não me julgo especial
em nada. Apenas ao ingressar na vida adulta optei por ser criterioso ao lidar
com meu semelhante, abusando do ser caridoso e correto nos relacionamentos e no
respeito aos Mandamentos Divinos. Creio que o que me diferencia de outros
octogenários (ou me iguala a eles) é que nasci pobre e permaneço do mesmo
jeito. Talvez pela incapacidade de fazer fortuna. Talvez pela opção de vida
escolhida a partir dos 22 anos de idade, quando entrei para o BB.
Também, fui, na hora certa, vacinado contra ideais coloridos
incutidos nas mentes universitárias. E devo essa imunidade ao gosto pelos
livros, cujas influências positivas chegaram na altura da formação do caráter
político. Com o gosto pela leitura e a precocidade da introdução no mundo literário,
fui moldado a ter opinião própria em direção ao convívio adulto, capacitado a
chegar aos oitenta anos - também talvez por isso mesmo.
Afora isso, não há receituário mágico a respeitar. Apenas
reconhecer ser filho de Deus e cumprir as regras trazidas com o Sopro da vida
dado por Ele, fiel ao primeiro mandamento “Amai a Deus sobre todas as coisas”.
E o resultado aí está.
Completei 80 anos hoje, dia 27 de abril de 2019. E quero
mais, pois não me arrependo de ter chegado tão longe.
Marcos Cordeiro de Andrade