SEMELHANÇAS ALEATÓRIAS
CHUPINS e TICO-TICOS
João Luiz Moura Siqueira
O Tico-tico recolhia no gramado pedaços de palha, capim e
gravetos, para construir seu ninho. Tal cenário fez minha memória avivar a
figura do aproveitador Chupim, conhecido pelo hábito de colocar seus ovos no
ninho de outras aves (em especial dos tico-ticos), para que as mesmas possam
chocá-los, criá-los e alimentá-los.
O local para onde o tico-tico leva a coleta parece muito bem
escolhido: Uma cerca, coberta pela trepadeira “hera”.
Sobre esta, descem, como espessas cortinas, ramos da planta
“amor agarradinho”, com flores pequenas, numerosas e duradouras, reunidas em
grandes e belos cachos.
Lugar perfeito para esconder um ninho, ainda mais porque o
construtor entra por uma espécie de túnel até o ponto de nidificação.
Dificilmente um chupim vai achar este futuro berço, pensei.
Mas, horas depois, vi um chupim em uma alta folha de
coqueiro, a observar o tico-tico, que persistia em sua lida.
Certamente o pássaro preto estava entrevendo um local para
uma futura deposição de ovos de sua fêmea.
É a lei da Natureza, resignei-me. O chupim adaptou-se, pela
evolução, a botar ovos parecidos com os do tico-tico, e dentro do ninho deste;
a fêmea do tico-tico vai chocando os ovos de chupim junto com os dela; os
filhotes de chupim nascem primeiro, e logo dominam o local: chegam a jogar fora
os ovos ou os filhotes de tico-tico. Os chupins estão “programados” para assim agir.
Por isso, Chupim acabou virando sinônimo de Aproveitador.
Chupins humanos; Aproveitadores, Oportunistas.
Já foi costume adjetivar com a alcunha de chupim o marido de
professora, que vivia à custa da mulher. Por extensão, diz-se da pessoa que
goza a vida sem fazer força, vivendo de enganar, ludibriar, obter vantagens
inescrupulosas em determinadas circunstâncias, em prejuízo de outras pessoas,
quer em situações de sucesso ou de infortúnio destas, ou se aproveitando do
esforço alheio.
São indivíduos sem ética que se deixam levar pela cobiça,
por aversão ao trabalho honesto ou por baixos instintos e cometem atos
reprováveis, com prejuízos e danos ao próximo, valendo-se de situação
favorável, tentadora. Sabem tirar proveito das circunstâncias em dado momento,
em benefício de seus interesses.
Aproveitam do sucesso ou do fracasso de outros para que de
alguma forma possam obter vantagem sobre tais situações; sua meta sempre será
se sair bem, e não importa se é em momentos difíceis, de dor, ou são momentos
alegres, o que ele quer de uma pessoa é apenas um espaço onde não precise de
esforço algum para obter algo.
O oportunista age sozinho, a observar atentamente as suas
futuras vítimas, que nunca desconfiam de nada, entregando-se inocentemente ao
aproveitador, pela muita esperteza e inteligência deste, que se aproveita da
bondade, da boa vontade e da simplicidade dos outros, para atingir os seus fins
inescrupulosos e lucrativos.
O aproveitador é “bom de papo”, dá-se bem com todos, procura
saber de tudo o que ocorre na sua região. Ao saber que alguém está com
dificuldades financeiras, mas possui bens de valor, lá vai ele a aproveitar a
oportunidade de obter alguma vantagem na aquisição de tais bens, fingindo estar
procurando ajudar, pois “não é para si próprio, mas sabe de alguém interessado,
que só dispõe de tal quantia…” Ele, o “benfeitor”, pode apenas aceitar uma “comissãozinha”.
Depois, dá um “trato” no bem (veículo, máquina, equipamento,
imóvel, etc.), com as eventuais “gambiarras” e o revende oportunamente, obtendo
um bom e fácil lucro.
Enfim, o oportunista é falso, inconsequente, desleal,
traidor, e espera sempre sua vítima com paciência, porém sempre observando suas
fraquezas. Ele tem boa aparência, é encantador, bom papo, possui esperteza e
inteligência e consegue manipular suas vítimas facilmente. Muito esperto, sente
cheiro de oportunidades, se faz de amigo, está pronto a causar danos que
dificilmente uma pessoa conseguirá superar. Nunca se arrepende, pois esse tipo
não sente remorsos.
Mas, como “Não há mal que sempre dure, nem bem que nunca
se acabe” a fama do espertalhão vai se espalhando e as pessoas se afastando,
levando o ardiloso à solidão e ao ostracismo.
Por: João Luiz Moura Siqueira. Atualmente é produtor
rural (fruticultor) há mais de 20 anos, em Porto Feliz (SP).
Abaixo mais informações sobre o colunista.
João Luiz
Moura Siqueira
Bancário, aposentado com 28 anos de experiência de Banespa;
em agências passou pelas várias funções, de escriturário a gerente; na
Administração Geral do Banco, em São Paulo, exerceu os cargos de Inspetor,
Auditor, e Gerente de Auditoria Interna.
E-mail: mourasiqueira1@hotmail.com
Extraído da Revista VIU - http://www.revistaviu.com.br/revista