A Coragem de ter medo
Marcos Cordeiro de
Andrade
Curitiba (PR), 03 de
abril de 2020.
Caros colegas.
Estou com medo. Medo de ser atingido pela força letal desse vírus
maluco que passeia pelo mundo com função devastadora. Matar com objetivo
inteligente parece ser parte da sua missão. Matar com viés de seleção
estabilizadora ceifando vidas no final da
existência, num parâmetro macabro de eliminação em massa. Parece até que ele
prima em atingir a todos com estratégia de guerras, posto que dá aos jovens oportunidades
de superação, para que se tornem mais fortes e duráveis - o que nega aos idosos
como se o propósito se prenda à diminuição populacional, renovando o plantel para
redução dos fatores que geram conflitos irreconciliáveis, pela disputa de
espaços preferenciais para continuidade da existência. Como resultante do seu
poder destrutivo, pode pôr fim a guerras, reordenar a fome, incutir sentimentos
nobres sobrepondo-se aos comportamentos condenáveis, reinventando o amor ao
próximo através da solidariedade como bem comum.
Procura-se o inventor dessa doença, como desculpa para
justificar conformismos e outras posturas condenáveis. Nisso invoca-se tanto a
Deus quanto ao Diabo como responsáveis pelo balanço resultante cuja velocidade
para alcançá-lo deixa o mundo em polvorosa.
Mal comparando, os noticiários nos mostram estatísticas como
diante de números olímpicos, onde recordes são batidos constantemente numa
disputa em que as nações envolvidas não queriam estar presentes.
Especula-se que estamos revivendo um de determinados momentos
em que a humanidade se viu no passado, diante de fenômenos advindos
aleatoriamente para pôr “ordem na casa”. Seja para combater a fome ou gerenciar
conflitos, as coisas se sucedem na forma de cataclismos temporais ou surgimento
de doenças sem cura – como agora.
Por isso tenho medo.
Medo de ser um dos escolhidos pela voracidade desse vírus
assassino. E este medo me leva a um viver anormal, enclausurado, modificando
hábitos e cultivando solidão forçada. Mas bem sei que isso somente não basta
para me tornar imune. Qualquer dia desses terei abaixado a guarda e o matador
invisível adentrará meus domínios. E assim, se for a vontade de Deus, serei mais
um condenado pelas mãos do Corona vírus, que terá descoberto que sou um dos preferidos
para constar nos Banquetes da Morte servidos diariamente nos hospitais do
mundo: cardiopata, diabético, hipertenso, e, como iguaria sublime, o fato de
que tenho 81 anos de idade - provavelmente sem serventia no futuro em
construção pela pandemia presente.
Mesmo assim, enquanto as autoridades sanitárias e os
governantes do mundo batem cabeças nessa briga no escuro, devemos seguir as
sensatas orientações que nos direcionam. Ficar em casa é a melhor delas.
Quem sabe se enclausurados demonstraremos ao vírus criminoso que
ainda não estamos prontos para submissão à sua sanha – e ele nos deixe em paz para
servir ao próximo com a sabedoria e experiência dos ressuscitados.
Marcos Cordeiro de Andrade
- 81 anos –
.
18 comentários:
É verdade,meu amigo. Por isso coloquei em prática uma mudança total aqui em casa. Nossos cômodos foram renomeados com os que gosto de frequentar lá fora. Praia do Calhar, Reviver, Bar do João, Praia do Araçagi, Lagoa da Jansen, etc...
Desta forma tenho me sentido mais liberto, mais valente, mais pronto para enfrentar esta desgraça de olhos puxados e gostos esquisitos. Me divirto imaginando o que estará acontecendo naquele momento,naquele lugar, e vou para o bar do João, como fazia há mais de dez anos, tomar uma gelada às 11 da manhã, com um grupo seleto de amigos. E as conversas fluem quase que normalmente, embaladas pelas fofocas políticas e apoiadas pela tecnologia digital,que nos permite vídeos conferências no lazer também.
Nunca fui de temer a morte, você me conhece fazem anos e conhece minhas aventuras e minhas agruras, quedas de motocicletas, etcc. No entanto temo sim, a forma de morrer. Nosso destino está selado, iremos um dia. Mas como tenho enfisema, e em 2000 consegui "queimar" os dois pulmões com uma substância química para impermeabilizar tecidos ( a capota de um Gurgel), usado de maneira totalmente errada, apesar das dicas da vendedora, temo muito a forma violenta como este vírus leva ao óbito. Este meu problema.
Mas, depois de tão poucos anos de vida, "apenas" 69, o que significariam uns poucos meses de recolhimento caseiro? Temo apenas que, ao acabar esta crise, permanecendo intacto como espero permanecer, minas mãos, punhos e braços, pelo menos, tenham que ser inscritos no AA, tamanha a quantidade de alcool que estão utilizando e, direta ou indiretamente, consumindo.
Mas minhas esperanças são grandes. Sobreviveremos, lamentaremos e teremos ainda tempo de refazer o mundo. Aliás, a terra agradece. Nosso recolhimento, ainda que não voluntário, nosso medo generalizado das crises respiratórias causadas pelo tal vírus (aliás, mais respeito. Pelo Senhor Vírus), está proporcionando uma grande folga na poluição da Terra. Que sirva para isso, pelo menos.
Espero encontrar todos os nossos companheiros de AAPPREVI na assembléia de novembro. Um grande abraço. Saúde e sucesso.
SolonelJr
Você não está sozinho nesta funesta jornada. Estou igualmente como você com medo do invisível, do contágio até pelo pensamento. Mas, tenho certeza de que ambos temos um poderoso antídoto contra este mal: Deus, que nos une e estará sempre ao nosso lado.
Mauro Esperança
Parabéns prezado Marcos Cordeiro, nossa diferença de idade é “de meses apenas” e o medo é igual. Achamos q está mto cedo pra partirmos. Saúde pra nós, q Deus nos proteja. Grande abraço.
Geraldo Vaz de Mesquita.
Belo texto, Marcos, parabéns pela lucidez. Assino embaixo. E faço votos de que esteja enganado de que será uma vítima incauta.
Adailton José Chiaradia.
03/04/2020
Empréstimo Simples: associados podem suspender parcelas.
Opção estará disponível em breve para prestações dos meses de maio e junho de 2020
Fonte: Site da PREVI
Mário Magalhães.
Marcos Cordeiro,
Texto macabro, mas de muita beleza.
Lamento os riscos, mas curti sua criatividade poética.
Mário, 78 anos.
Ronaldo Godinho.
Prezado Marcos faço coro com seus sentimentos de medo e preocupação. Se a sua preocupação maior é pela sua idade, 81 anos, o que direi eu com 87. Grande abraço.
Fátima Z. de Ávila.
Sr. Marcos Cordeiro
Desculpe me meter no seu desabafo, muito justo aliás. Porém gostaria de lhe dizer com todo respeito que o Sr. Não está condenado. Eu não tenho títulos pra fazer um diagnóstico, só a experiência de ter passado por isso. Talvez seja pânico (doença)/ depressão/ansiedade. Eu não sei. Procure um serviço de saúde, existem remédios que podem aliviar seu sofrimento. Em nenhum momento desejo retirar a legitimidade dos seus sentimentos. Obrigada pela sua coragem.
Caro Furquim.
Bom dia.
Agradeço a reconfortante manifestação.
Todos os meus textos são do domínio público.
Use e abuse.
Abraços fraternos,
Marcos Cordeiro de Andrade
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From: Antonio João Furquim
Sent: Saturday, April 4, 2020 9:14 AM
To: marcos@previplano1.com.br
Subject: Coragem de ter medo.
Bom dia,
Parabéns pelo texto e pela amplitude da análise.
Peço permissão para usá-lo, de forma justa e perfeita.
Fraterno abraço!
Furquim
Marcus Alves.
Bom dia,
Não entendo porque até o momento as Associações representativas de funcionários, aposentados e
pensionistas, ainda não tentaram sensibilizar o governo para liberar os pagamentos do passivo jurídi
co existente como os precatórios e ações judiciais já transitadas em julgado contra orgãos da republi
ca como INSS, RECEITA FEDERAL, que continuam sendo protelados seus pagamentos somente no in-
tuito de ganhar tempo.
Baseado nas declarações dos ministros e do presidente da república que existe uma necessidade de
manter a economia funcionando e para isto e necessário ampliarmos o poder aquisitivo da população
Como estes processos tem como beneficiários em sua totalidade APOSENTADOS, que foram expropria
dos dos seus direitos por governos passados e que já tiveram reconhecidos estes mesmos direitos pe-
la justiça e como estamos vivendo uma época de exceção nada mais justos que ocorra esta liberação.
atenciosamente
Abel Ferreira Leal Junior – Parte I
Meu querido amigo Marcos,
Como sempre, não deixo de ler tudo que você escreva, confesso que seu artigo me surpreendeu. Não acredito que você tenha medo, acredito sim, que você esteja com sua imunidade psicológica abalada com esse bombardeio de notícias diárias que informam mortes, mortes e mais mortes. Isso me faz lembrar muito o Vietnam, no período de Guerra com os EUA e revejo a aflição das mães e esposas americanas quando viam um carteiro andando pelas redondezas de suas casas. Todas se fechavam em casa e ficavam rezando para que não fosse a sua campainha a tocar. Na ocasião, o Pentágono comunicava a morte de um soldado mandando uma correspondência modelo, onde comunicava a morte do soldado e a data em que o corpo ou os restos mortais dele seriam levados para o Cemitério Nacional de Arlington, no Estado da Virgínia. Na ocasião, 1960, eu estava lá nos Estados Unidos estudando e ficava na casa de uma família cuja filha veio estudar no Brasil e ficou na casa da mamãe. Um estudo feito na ocasião concluiu que aquelas mães e esposas estavam sofrendo de um mal ao qual deram o nome de " Shaken psychologic immunity", ou seja, Imunidade Psicológica Abalada. Elas não tinham medo da guerra, mas tinham medo do pobre do Agente dos Correios. Quando era um oficial morto parava uma viatura das forças armadas para fazer tal comunicação e o mesmo ocorria com as esposas ou mães destes.
Não se fixe tanto no número de mortos que nos são revelados todos os dias, a todo momento. Se puder, acenda uma vela por eles e faça uma oração para que Deus os receba em seus braços.
Eu também sou velho, chato, reclamão, briguento, mas, devido a minha religião não acredito na morte, acredito que desencarnamos para passarmos para uma outra dimensão ou para nos prepararmos para uma nova reencarnação. Já tive cinco infartes, sendo que no último fiquei 19 minutos com o coração parado, o que me custou 86 dias em coma e mais 102 dias de internação. Tenho uma ponte miocárdica, uma angioplastia, não sei quantos stents, um marcapasso, um micro desfibrilador interno. Então me encontro dentro do chamado grupo de risco. Te confesso que nunca pensei na possibilidade de morte, porque não acredito nela conforme já falei. Mas, se eu for um dos escolhidos para o desencarne será porque minha hora chegou. Todos nós temos nosso tempo demarcado.
Continua na Parte 2.
Abel Ferreira Leal Junior – Parte 2 – final.
Tem gente hoje morrendo por tiro, por facada, acidente de carro, por dengue, por malária, afogado, os natimortos, atropelado, por uma guerra, por suicídio, por velhice mesmo e pelo Vírus de hoje. No Brasil, ano passado, só em acidente de trânsito, morreram a cada hora 5 pessoas, o que dá 120 pessoas por dia, segundo dados do G1. Isto foi comentado pela mídia, só que não de forma tão maciça, de hora em hora falando sobre as mortes. Imagina em uma sexta feira a mídia ficar o dia inteiro te dizendo que morreram 840 em uma semana de acidentes de trânsito? As pessoas ficariam psicologicamente abaladas também. Ia ter gente que nunca mais entraria em um carro ou ônibus.
O País tem um vírus pior do que esse corona, é o capita, mais conhecido por Bolsonaro que todos os dias barbariza a todos com sua ignorância, estupidez, megalomania e outros atributos que não vou perder meu tempo em enumerá-los.
É meu amigo, guarde sua coragem para a vida, para essa sim, precisamos ter coragem, principalmente em um País igual ao nosso e você sabe disso tão bem quanto eu.
Marcos, ainda vamos comemorar seus 101 anos. Acredite nisso, você não acredita em Deus? Quem acredita em Deus não pode tremer diante de qualquer inimigo.
Se desliga um pouco dessa enxurrada de comunicados sobre esse vírus. Tome seus cuidados e precauções. Siga todas as orientações das autoridades de saúde. Faça suas orações, acenda uma vela para seu anjo de guarda se você acreditar em anjo de guarda. Ame a sua família, a seus amigos, porque tenho certeza de que todos eles te amam. Ame a vida, esqueça a morte, viva essa maravilha que Deus te deu chamada vida. Esperemos esse tempo ruim passar e depois que a tempestade tiver passado, observemos o que mudou no mundo, na natureza, no homem, na vida e se não notarmos nenhuma mudança, lamentemos juntos pela incorreção do homem, mas continuemos a viver nossas lutas, acrescendo mais uma dentre elas: a melhora da humanidade.
Com todo meu respeito e admiração
Com todo meu carinho
Um fraternal abraço
Abel Ferreira Leal Júnior
João Teixeira de Faria
Belíssimo texto, meu Caro Marcos. Parabéns e abraços curitibanos.
Texto fantástico, como sempre.
O senhor não vai contrair esse vírus.
Um beijo, meu amado amigo.
---
Eduardo Mauro Prates
Advogado
Orácio Cassiano Neto.
Meus caros, Parece que a carta que essa Associação enviou para a PREVI (assuntos bem abordados, por sinal) sobre possíveis providências para ajuda aos aposentados nesta hora que terrível pandemia nos ataca, não foi suficiente nem teve forças para romper a insensibilidade da diretoria da Previ. Lamentável. Muito triste e realmente lamentável.
From: atend@previ.com.br
Sent: Tuesday, April 14, 2020 3:55 PM
To: cordeiro@marcoscordeiro.com.br
Subject: Sua mensagem foi recebida com sucesso.
Senhor(a) MARCOS CORDEIRO DE ANDRADE
A PREVI confirma o recebimento da mensagem abaixo.
Aguarde nosso retorno em breve.
Gerência de Atendimento
PREVI
Esta mensagem é automática e seu retorno não é monitorado.
__________________________________________________________
Data: 14/4/2020
Tipo: Solicitação
Mensagem: Gostaria de saber se a renovação do "ES 13º - PL 1" poderá ser requerida neste mês de abril.
Grato,
Marcos Cordeiro de Andrade
6.808.340-8
Matrícula: 6808340
Nome: MARCOS CORDEIRO DE ANDRADE
E-mail:
Belo texto, como todos de sua lavra. Eu também, nos meus 94 anos, estou com medo desse covid-19. Sei que meus pulmões lhe são o prato predileto...
Edgardo Amorim Rego
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