82 anos - e a Conspiração dos
Cemitérios
Marcos Cordeiro de
Andrade
Caros
colegas,
A hipotética Conspiração dos Cemitérios é uma aliança macabra
para lotar suas dependências com o extermínio dos idosos e, para ser
bem-sucedida, a cada dia agrega mais contribuintes afora as causas naturais:
GOVERNOS; COVID 19; FOME; PREVI...
Ao incluir a PREVI nesse balaio, dou como exemplo o meu caso,
em particular, lembrando uma realidade inconteste:
“Não
há tristeza no mundo,
Que
se compare à tristeza
Dos
olhos de um moribundo
Fitando
uma vela acesa...”
A PREVI já empunha a minha vela há mais de dez anos, quando vaticinou que eu viveria até os 70. Teimosamente, como se fora para contrariar, hoje cheguei aos 82... O que faz supor que essa rebeldia me custou 12 anos de abandono por parte do Plano, cioso da infalibilidade dos seus números projetados.
Rememorando, em 1962, quando entrei para o Fundo, frases de
efeito não eram necessárias para que alguém acreditasse no Plano. Ele não
precisava fazer esforço algum para a adesão - era obrigatória ao
recém-empossado no Banco como o é até hoje.
Todavia, num crescendo, o uso de chavões foi de uma
prodigalidade espantosa, culminando com o que hoje estampa a primeira página do
site:
“Cuidar do futuro das pessoas. Este é o nosso propósito.”
Então, agora o bicho pegou! Este último slogan divulgado com
estardalhaço mexeu com meus brios, pois fala que cuida do futuro das pessoas
deixando de me incluir nos seus projetos. Sim, porque o meu futuro já chegou e
não vejo nada que a PREVI tenha feito para que eu esteja aqui em bom estado de
conservação. Ao contrário, fui abandonado por ela como pessoa para não ter
futuro algum nos seus caminhos. Hoje,
completando 82 anos de idade, sem outro futuro que não este, sobrevivo à sombra
dos ínfimos benefícios previdenciários pelos quais paguei na trajetória do
envelhecimento. Toda a renda que chegou até este futuro não passa de um
arremedo de recursos dignos para amparar velhice segura, como prometido na
propaganda de convencimento extramuros. Reputo este como um futuro ilusório.
Dizer que seu “propósito maior é cuidar do futuro das
pessoas” é uma afronta à minha atual condição de vida. Coisa que se repete e
enoja.
É um deboche em cima de quem merece respeito e agradecimentos
pelos tostões retirados do sustento ao longo de 60 anos ininterruptos, e que
são usados e explorados para consecução dos seus intentos, até mesmo através do
voto garantidor de inserção nos cargos de direção. Nesse percurso, o que se viu foi redução
gradativa dos proventos por conta de expedientes escusos: aí enquadrando
mudança de índices de reajustes inflacionários; alteração de cláusulas do
estatuto em direção ao prejuízo dos assistidos; discriminação em razão dos
parâmetros de utilização do ES, alardeado como sendo uma tábua de salvação, mas
fora do alcance dos idosos como eu etc.
E hoje, com a idade a que cheguei, olho para trás e me
pergunto como acreditar em quem me iludiu durante décadas da minha existência,
mormente agora com a mudança do discurso em forma de parâmetro final para me
excluir de vez: “Cuidar do Futuro das pessoas. Este o nosso propósito”.
Alardeando que “esta é a frase que resume a razão de ser da PREVI há mais
de um século”. Ocorre que durante quase todo esse tempo (quase 60 anos
para ser mais preciso) deixei significativa parte do meu futuro para ser
cuidada pelos propósitos da PREVI, pagando por isto, mensalmente, com a
precisão de um relógio suíço. Também, hoje, quando mais preciso dos seus
cuidados, sou esquecido naquilo que lhe cabe: o futuro que chegou e está
passando em direção ao fim.
Enquanto não precisei da Caixa, na condição de participante, tratei
eu mesmo de preparar meu futuro primando por bem cumprir a missão de empregado
- a fé-de-ofício que o diga. No entanto, a partir do momento em que atravessei
o rubicão, adentrando a aposentadoria, vi que a história de um futuro tranquilo
a depender da PREVI era balela. A começar pela redução dos proventos da ativa,
penalizado pelo rebate imposto no “regulamento”, quando prometia “complementar”
o benefício do INSS com a poupança formada.
A partir dali, fui levado à condição de devedor renitente por
conta de um tal de ES que a “bondosa” Caixa inventou. Entendo agora a razão
dessa deferência. Acostumada com números e previsões matemáticas infalíveis,
sabendo que todo aposentado, ao sair da ativa, se ressentiria da falta de
ganhos para sustentar o padrão recém-perdido, inteligentemente tratou de
disponibilizar dinheiro extra, seguidamente emprestado para enganar a plateia e
evitar reclamações como propaganda negativa, posto que era retirado da poupança
alimentada com as provisões mensais. Com uma agravante: inaugurando um ciclo de
permissividade para renovações consecutivas – aumentando o endividamento
gradativo. E reduzindo sistematicamente o líquido do contracheque, o que me
leva a parodiar o Hino de determinado Clube: “Uma vez devedor, sempre
devedor”.
Então, o que ela faz para se gabar tanto?
Simplesmente administra a poupança que ajudei a criar com o
patrão, para distribuí-la de acordo com a Lei. Mesmo assim, essa distribuição
não é equitativa, mas facciosa ao sabor de idas e vindas de um regulamento
manipulado, porque, descobri tarde, o fundo é subordinado e monitorado por
organização ávida por lucros, e, ironicamente, como a PREVI não pode ser
lucrativa, o manipulador determina espremer os assistidos para tirar vantagens
da sua fraqueza.
E como isso é fácil! O patrocinador, essa é a figura, cuidou
lá atrás de interferir na feitura dos regulamentos do Fundo para lucrar à
feição dos seus propósitos. Depois, bastaram algumas reformas estatutárias para
deixar a coisa sem conserto. Tudo foi bem planejado tratando de bajular a Lei para não haver retrocessos. O que é
seu ninguém tasca, sabe-se agora. Também é sabido que a manobra supimpa foi
nomear gente de dentro do “balaio de velhos” para proteger o seu quinhão no
butim. Nisso, deu plenos poderes aos prepostos para manobrar os próprios
salários de modo a fugir da pecha de aposentados pobres, passando a ocupar a
classe de nababos autossustentáveis. E estes, em cima de fartos mimos, aceitam
todas as ordens sem pestanejar. Basta dizer que eles, eleitos e nomeados,
forram a burra mensalmente com algo em torno de R$ 50.000,00 (fora os
“agregados”) que determinaram para si. O que equivale a dez vezes o líquido do
meu contracheque.
Ademais, a declaração bombástica de que existe para “Cuidar
do Futuro das pessoas. Este o nosso propósito”, me trouxe mais uma preocupação
que carece de esclarecimentos. Eis que, se ela não cuidou de mim até hoje é
porque o meu futuro, aos 82 anos, ainda está por vir, presumo. Ou será que ela
tem informação privilegiada de que há vida após a morte? Se assim for, o
presente sufocante que se dane! Pois o meu futuro está lá à espera para me
apossar da parte que me toca nos R$ 219 bilhões que alardeia ter, dinheirama
guardada a sete chaves à disposição do patrocinador, fala-se.
Convencido de que na urdida trama secular não existe a
possibilidade de aumento de benefícios fora dos preceitos estatutários,
concluo, então, que nem a mão pesada da Justiça me dará atenção. “Eles” já
cuidaram disso, restando-nos aguardar uma “virada de mesa” por conta de quem tenha
poderes e sentimentos de justiça para tal.
Lembrando que o segmento de que trato monta cerca de
87.000 almas ainda neste patamar de sobrevivência (assistidos do Plano 1 –
Relatório anual 2020), já tive a ousadia de propor soluções, como
sejam:
1. Retornar ao índice inflacionário que cuidava dos reajustes
dos benefícios (IGP-DI, ou outro que melhor nos atenda);
2. Atualizar os benefícios defasados em razão da troca desses
índices;
3. Devolver o montante da diferença resultante;
4. Distribuir parte do pecúlio da CAPEC ainda em vida;
5. Eliminar a discriminação etária existente entre participantes
e assistidos (v. parâmetros de concessão do ES);
6. Extinguir a
cobrança da contribuição/PREVI para quem pagou mais de 360 mensalidades;
7. Elevar a Margem
Consignável para 40%;
8. Formar uma comissão
de assistidos para conhecer suas necessidades passíveis de tratamento
humanitário pelo Fundo respectivo.
- Tudo em vão!
Mas, se de fato me beneficie depois da morte com regalos
materiais, serei grato mesmo sabendo que mortalha não tem bolsos - nem caixão,
gavetas. A ser verdade, gostaria de saber se vou gastar tudo em folguedos com
os anjos celestiais ou com os travessos diabinhos do inferno.
Por tudo isto, não será de estranhar se hoje, dia 27 de abril
de 2021, ao completar 82 anos, a “compreensiva” PREVI me premie com uma
exclusiva frase de efeito, desejando...
“Feliz aniversário”, com um adendo de regozijo:
“Perdeu, playboy”.
Curitiba (PR), 27 de abril de 2021
Marcos Cordeiro de Andrade
Aposentado matrícula nº 6.808.340-8
Associado PREVI desde 15/05/1962
cordeiro@marcoscordeiro.com.br
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