EXCEPCIONAIS e QUERIDOS
Marcos Cordeiro de Andrade
Caros
colegas,
É uma pena que a sociedade somente tenha olhos para critérios
de beleza sob visão estereotipada. Assim como as corujinhas são tidas como
símbolo de feiura, os portadores de necessidades especiais
são vistos como exceção à regra que venera a perfeição estética dos corpos humanos.
Corpos sarados e biquinis cavados são notícia em qualquer veículo de
comunicação virtual. Enquanto é tabu falar de gente fora desses padrões. Aí
vale a doutrina Ricúpero: “o que é bom a gente mostra, o que é ruim a
gente esconde”.
Essa avaliação hipócrita impõe eternos constrangimentos aos
pais e responsáveis por criaturas assim rotuladas. E aqueles, resignados com o
encargo que Deus lhes deu, aprenderam desde cedo a reconhecer toda a beleza
interior que esses desalinhados na sociedade elitista possuem, pois para os
pais todos nós fomos “feitos à imagem e semelhança de Deus”. Sem esquecer a
máxima que diz: “Quem ama o feio, bonito lhe parece”.
Muito a propósito, estranhamente notícias recentes se
ocuparam do assunto. Talvez isso tenha a ver com propaganda virtual, muito em
voga em época eleitoral.
Mas não devemos procurar culpados por este estado de coisas
porque, por vezes, os próprios acompanhantes não suportam ouvir comentários inconvenientes.
“Coitadinho, o que é que ele tem?” “Ele é doentinho?” E coisas do tipo. Isso, para a mãe do meu
filho Sebastião, é cantiga imutável desde o nascimento de sua “pérola” querida,
há 56 anos. Esse meu varão foi reconhecido como
incapaz e totalmente dependente desde então (19/11/1965). E ela, hoje contando
80 anos, ainda se encarrega dos cuidados com o filho negados pelos órgãos
competentes. Dentre esses oitenta anos vividos, mais de meio século deles foram
de afastamento dos prazeres mundanos, “aproveitados” empurrando uma cadeira de
rodas em direção a lugar nenhum. Quando muito em busca do banho de sol na
pracinha perto de casa – Luxo permitido em tempo bom ouvindo aquelas perguntas
repetitivas e a quem, educadamente, responde com a brandura de quem crê em
Deus, e nos Seus bons ofícios.
Para aumentar as dificuldades, até mesmo a CASSI. a quem
recorremos amiúde, se mostra mesquinha ao abonar despesas enquadradas na TGA e
devidas pela assistência de profissionais recomendados sob prescrição médica: Cuidadores;
Fisioterapeutas; Fonoaudiólogas; Enfermeiros, Acompanhantes: Massagistas etc.
A estes o Sebastião se submete durante as sessões, nem sempre
com docilidade, ocasiões em que grita alto em sua linguagem desconhecida,
acompanhada de espernear potente com suas botas ortopédicas que não se prestam
ao andar, mas para distribuir chutes
com os suportes metálicos que ladeiam suas pernas - sem serventia para outros
esforços.
Essas atribulações acompanham muitos outros pais como nós,
aos quais dedico esses comentários, na esperança de que o assunto seja mais bem
lembrado do que a propaganda que a PREVI fez recentemente da única Associação
do meio (APABB), cujos serviços atendem alguns Estados da Federação:
https://www.previ.com.br/portal-previ/fique-por-dentro/noticias/previ-se-reune-com-apabb.htm
Ela está presente no DF, BA, CE, ES, GO, MG, PE, PR, RS, RJ,
RN, SC, SE e SP.
A propósito, hoje surgiu mais uma promessa da ANS,
“Ampliando cobertura de planos para tratamento de
autismo e de outros transtornos”
Esperemos que a CASSI regulamente essa cobertura, cuidando
que os valores sejam compatíveis com nossa capacidade financeira e que,
igualmente, reveja a política de preços do atendimento aos dependentes nessas
condições. Vale lembrar que muitos desses serviços deixam de ser utilizados por
absoluta falta de recursos para arcar com as glosas resultantes. E o assistido
cada vez mais carece do tratamento recomendado – aumentando o peso da pecha de portador
de necessidades especiais.
Atenciosamente,
Curitiba (PR), 04 de julho de 2022.
Marcos Cordeiro de Andrade
Associado da CASSI desde 15/05/62
Um comentário:
Meu amigo Marcos,
poucos sabem tanto a este respeito quanto você, e certamente, ainda há muito o que ser feito neste sentido. Solonel Jr.
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