NATAL do Eu sozinho
Marcos Cordeiro de
Andrade
Aos 84 anos de idade, minha outrora frondosa árvore
genealógica perdeu o viço em podas sucessivas,
operadas pelas mãos Divinas Natal após Natal. Hoje, conformado, vejo nela
apenas o toco seco de um tronco enrugado cortado rente, ostentando resguardados
dois raminhos promissores sugando o sopro da vida, que Deus me reservou como
filhos. Um deles, o mais novo, age como o anjo da guarda protegendo minha
velhice solitária.
Com esse pensamento, preparei meu espírito para passar o
Natal desacompanhado. Talvez o mais sozinho que jamais esperasse ter, mesmo
como consequência natural da mecânica que rege nossas vidas.
Com o passar do tempo, a acomodada presença de entes queridos
à volta da mesa do Natal vai se reduzindo, por conta de ausências que se dão
pela vontade de Deus. Justificando-se por mortes ou afastamentos em busca de
novos horizontes, o esvaziamento é gradativo e ninguém está livre do processo.
Pelo visto, a cada ano o Natal é menos pródigo em proporcionar o calor humano
da festividade. Sem esquecer que, quanto mais longevo o vivente, mais propenso
à fadiga do costume de partilhar presenças – mormente entre familiares.
Em que pese tudo isto, neste Natal de solidão não vencida
cumprirei a tradição da Ceia em mesa compartilhada e farta na medida do
possível. Porém, se diferenciando pela escassez de convidados que o tempo não
deixou reunir. Será a Ceia do Eu Sozinho esta que não me permitirá ver ninguém
à volta em qualquer cabeceira que ocupe. Mas, resignado pela sujeição imposta,
dividirei uma hipotética mesa repleta de convivas convocados pela imaginação de um saudoso anfitrião
solitário.
Hoje não esperarei pela Missa do Galo para iniciar a ceia do
Natal. Assim, terei tempo de incluir nas orações os nomes dos “presentes” - que
nunca foram tantos.
De modo que também o seu nome, que me lê agora, seja lembrado
juntamente com o de todos os que frequentaram as mesas dos meus Natais
passados. E como a fantasia não
respeita limites, ao preencher a relação deste ano me darei ao luxo de incluir
os que sempre quis ter comigo, agora sem o remorso de roubar sua presença às
mesas das suas escolhas. Por isso, sem sair do lugar que ora me cabe, peço
permissão para que os alcance nas suas reais mesas natalinas. E ali, num abraço
fraterno de FELIZ NATAL, pedirei ao Aniversariante que nos recomende ao Pai
para que nos dê PAZ, SAÚDE e TRANQUILIDADE.
AMÉM!
Marcos Cordeiro de Andrade – Curitiba (PR) 24/12/2023.
www.previplano1.com.br, cordeiro@marcoscordeiro.com.br
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